Fazenda localizada em Três Corações (MG) conquistou o segundo lugar na categoria médias propriedades do Prêmio Fazenda Sustentável.

As secas e as altas temperaturas de 2024 afetaram intensamente a produção de café na maioria das regiões produtoras do país. Na Fazenda do Lobo, em Três Corações (MG), as práticas sustentáveis ajudaram a família Foresti a conseguir uma grande produtividade. O segredo para o sucesso foi retomar as origens da cafeicultura: plantações sob a sombra das árvores.


Marcos, Andréa e Guilherme Foresti, da Fazenda do Lobo— Foto: Thiago de Jesus

 

A ligação da família com a Fazenda do Lobo – que tem esse nome devido à presença de lobos-guará na região – começou em 1996, quando Marcos Foresti e Andréa Galvão Nogueira Foresti compraram a propriedade. Foi na fazenda que o casal criou os três filhos, Cláudio, Guilherme e Thiago.

Como os cafezais eram antigos, alguns com 40 a 50 anos, o primeiro trabalho foi renovar as lavouras para, com isso, ter plantas mais jovens e produtivas. “Meu pai replantava praticamente um talhão por ano até 2017, quando o último dos 23 talhões foi renovado”, conta Guilherme, o filho do meio, que começou a trabalhar na fazenda em 2019, após se formar em administração de empresas.

“Meus pais já tinham um trabalho com foco em cafés especiais. Em 2008, conseguimos nosso primeiro certificado Nespresso AAA”, lembra, mencionando a certificação de fornecedores da marca da Nestlé que atesta que a produção de café de alta qualidade é sustentável.

A virada de chave para a sustentabilidade começou quando Cláudio, o filho mais velho, formou-se em engenharia ambiental e começou a adotar práticas de agricultura regenerativa. Nessa época, a família conquistou o certificado da Rainforest Alliance.

Com a renovação dos cafezais, a fazenda produziu quase 4 mil sacas de café em 2021, um recorde. No entanto, o clima imporia um novo desafio: naquele ano, a geada atingiu 40% das lavouras. “Parecia filme de guerra, que as plantas tinham pegado fogo. Meus pais nunca tinham visto geada aqui. Foi um baque profundo, tivemos que pegar muito crédito porque o seguro não cobriu as perdas”, recorda Guilherme.

Agrofloresta e manejo regenerativo ajudaram a família a contrabalançar os efeitos da seca e das geadas de 2024 — Foto: Thiago de Jesus
Agrofloresta e manejo regenerativo ajudaram a família a contrabalançar os efeitos da seca e das geadas de 2024 — Foto: Thiago de Jesus

Com os prejuízos, os Foresti tomaram duas decisões. A primeira foi recepar (fazer o corte do pé a 30 centímetros do chão para estimular a rebrota) as lavouras atingidas. A segunda foi proteger as plantações com a ajuda da natureza. “Visitei uma fazenda em Careaçu (MG) depois de ler sobre projetos de agrofloresta e decidi fazer um projeto parecido para blindar o café do clima”, conta Guilherme.

Além de integrar as lavouras ao florestamento, os Foresti também têm investido no manejo regenerativo em larga escala, utilizando produtos biológicos, adubos orgânicos e mix de plantas de cobertura. O trabalho tem como objetivo promover a adubação verde e a retenção das águas da chuva. Além disso, os produtores mantêm árvores funcionais, que atraem inimigos naturais das pragas do café.

Os resultados das práticas já são evidentes. A Fazenda do Lobo deve colher 3.800 sacas em seus pouco mais de 90 hectares, mesmo com a seca de 2024.

“Com as altas temperaturas e quase seis meses sem chuvas no ano passado, ter conseguido converter a florada em pegamento e obter essa produtividade é uma prova da eficiência da nossa aposta na agricultura regenerativa”, comemora Guilherme.

Hoje, os cafezais da Fazenda do Lobo estão rodeadas por uma extensa agrofloresta composta de culturas intercalares, como eucalipto e banana, além da área de reserva natural, reconstruída e preservada.

A produção caminha para se tornar uma cafeicultura com manejo e técnicas orgânicas, o que eleva a qualidade dos cafés especiais. A lavoura tem as variedades arara, topázio, mundo novo, acauã, catuaí vermelho e amarelo, bourbon e acaiá.

Além de já ter obtido várias certificações, a propriedade integra o Projeto Ecooar Renova Cerrado, que busca reflorestar áreas de preservação permanente e combater a degradação ambiental. Mas Guilherme sonha com novas iniciativas.

“Queremos arborizar muito mais e aumentar o manejo de mix de cobertura. Também vamos fazer mais florestamento nas áreas das nossas nascentes, para talvez permitir, no futuro, a irrigação do café”, relata.

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